“ORAÇÃO, ela faz alguma diferença?” é o título de um dos
livros do Philip Yancey. Nele, o autor aborda várias questões a respeito da
oração, principalmente os nossos diversos sentimentos por ela. Yancey passou
por altos e baixos em sua carreira cristã e vida espiritual e é muito sincero ao
descrever suas experiências. Ele se abre ao leitor contando os períodos de
ceticismo ou de aridez, sem escondê-los atrás de uma máscara de cristão
vitorioso-vencedor. Talvez por isso, seja tão lido e talvez por isso também,
publique um livro atrás do outro. A gente, como leitor dele, fica com aquela
vontade de dizer-lhe “conta mais” por que se identifica com suas experiências,
já que também passamos por períodos de altos e baixos na nossa vida espiritual.
Dentre vários trechos muito bons, destaco este para deixar
no blog:
Ouvindo a Deus
O escritor Brennan Manning, que organiza retiros espirituais
várias vezes por ano, disse-me certa vez que ninguém seguiu seu regime de
retiro silencioso sem ouvir a voz de Deus. Intrigado e um pouco cético, Inscrevi-me
num de seus retiros, cuja duração era de 5 dias. Cada participante tinha um
encontro diário de 1 hora com Brennan, que nos passava tarefas para meditação e
tarefas espirituais. Também nos reuníamos para um culto diário durante o qual
apenas Brennan falava. Fora isso, estávamos livres para usar o tempo como
quiséssemos, havendo apenas uma exigência: duas horas por dia de oração.
Duvido que eu tenha dedicado mais que 30 minutos à oração em
qualquer ocasião de minha vida antes disso. No 1º dia, caminhei até a orla de
um prado e sentei-me, apoiando as costas numa árvore. Tinha comigo a tarefa que
Brennan me dera para aquele dia e um caderno para registrar meus pensamentos. Quanto tempo vou permanecer acordado?,
perguntei-me.
Para minha grande felicidade, um rebanho de 147 alces (tive
tempo de sobra para contá-los) visitou o prado em que eu estava. Ver um alce é
emocionante. Observar 147 alces em seu habitat natural é fascinante. Mas logo
percebi que observar 147 alces durante 2 horas é, para ser delicado, uma
chatice. Eles abaixavam a cabeça e ficavam comendo capim. Erguiam a cabeça ao
mesmo tempo e olhavam para um corvo esganiçado. Abaixavam de novo a cabeça para
comer mais capim. Durante 2 horas, nada mais aconteceu. Nenhum leão da montanha
atacou, não houve lutas de cabeçadas nem esgrima de chifres entre machos. Tudo
que os alces fizeram foi ficar curvados comendo capim.
Depois de certo tempo, a placidez da cena começou a me
afetar. Os alces não haviam
notado minha presença, e eu simplesmente me tornei
parte do ambiente, assumindo o ritmo deles. Eu já não pensava no trabalho que
deixara em casa, nos prazos que me aguardavam nem na leitura que Brennan me
prescrevera. Meu corpo relaxou. Naquele silêncio de chumbo, minha mente
sentia-se tranquila.
“Quanto mais tranquila a mente, tanto mais poderosa,
valiosa, profunda, reveladora e perfeita é a oração”(citação). Um alce não
precisa esforçar-se para ter a mente tranquila. Sente-se feliz permanecendo de
pé num campo o dia inteiro com seus companheiros alces, comendo capim (...)
Disse algumas palavras durante minhas 2 horas de oração
naquele dia, mas aprendi uma lição importante. Jó e Salmos deixam claro que
Deus encontra prazer não apenas em companheiros humanos, mas também nas
múltiplas criaturas deste planeta. Uma cena da natureza que para mim se destaca
como o ponto alto do dia é “observada” por Deus todos os dias. Eu conseguira
mais um vislumbre do lugar que ocupo no Universo, e do lugar de Deus – a vista
de cima.
Nunca mais vi os alces, embora os tivesse procurado todas as
tardes nos campos e florestas ao redor. Ao longo daqueles poucos dias de
retiro, disse muita coisa para Deus. Eu estava completando 50 anos e pedi
orientação sobre como preparar minha alma para o resto de minha vida. Fiz
algumas listas, e muitas coisas vieram-me à mente, nas quais eu não teria
pensado se não tivesse ficado sentado lá no campo horas a fio. A semana
tornou-se uma espécie de checkup
espiritual e apontou caminhos para um crescimento maior (...) Não ouvi nenhuma
voz perceptível, mesmo assim, no fim daquela semana, tive de concordar com
Brennan: eu ouvira a voz de Deus.
Fiquei mais convencido do que nunca de que Deus encontra
maneiras diferentes de se comunicar com aqueles que realmente o procuram,
especialmente quando reduzimos o volume da estática ambiental (...) Aprendemos
a orar orando, e 2 horas de concentração num só dia ensinaram-me muito.
(...) Depois de um longo tempo com Deus, meus pedidos
urgentes, que pareciam tão importantes, assumiram um novo tom. Comecei a apresenta-los
em benefício de Deus, não para vantagem pessoal. Embora minhas carências me
levem a orar, orando fico face a face com minha maior carência: um encontro
pessoal com Deus.
Philip Yancey
Oração, ela faz alguma diferença?
Editora Vida - p.64-67
Obs.: Ao procurar imagens de alce (moose) para ilustrar esse texto, notei que eles estão sempre em
pouco número; imagino então que, poder ver 147 alces num lugar só, deve ter
sido “milagre”, uma especial demonstração da bondade de Deus para Yancey,
especificamente, naquele momento! Que belo presente deve ter sido!...
Rebeca Hansen
Extraordinário post...Deus abençoe grandemente sua semana!
ResponderExcluir